domingo, 29 de junho de 2014

Especial Tupac Shakur pt. 1 - Entrevista Para a Revista "VIBE"

Fala galera!
Aqui começa a primeira das três partes desse especial do músico Tupac Shakur.
Sem dúvida, Tupac mudou o rumo do Hip Hop mundial na década de 90. Existem vários motivos para afirmar isso, mas apenas para citar um exemplo: geralmente, os músicos começam a gravar uma canção, e demoram em média 10 dias para concluí-la.
Tupac se sentava no estúdio, começava a escrever, e gravava entre 3 e 5 músicas... por dia. O rapper Snoop Dogg afirma que suas letras não continham nem erros de concordância, ou escritas erradas.


Mas no final de 1994 e final de 1995, a vida de Tupac deu uma reviravolta absurda.
Sofreu um atentado em Nova Iorque, onde foi baleado 5 vezes, gravou seu melhor álbum, o "Me Against the World", foi preso por uma acusação de estupro armada pelo governo, e declarou suas desavenças contra os rappers nova-iorquinos Notorious BIG e Sean "Puffy" Combs.

O que segue nesse post é sua entrevista para a revista VIBE, que Tupac concedeu enquanto estava preso, na data de abril de 1995. E nada melhor que o próprio homem falar sobre o que realmente aconteceu naquela noite de 30 de novembro de 1994. Tupac dá a sua opinião sobre quem estava por trás do tiroteio e nos diz exatamente o que aconteceu naquela noite, quando e porquê.
Nunca antes traduzida para o português, é uma novidade que eu consegui trazer para o blog.
Espero que gostem!



Na capa, Tupac diz: "Essa é minha última entrevista. Se eu for morto, quero que as pessoas saibam a verdadeira história.".
A entrevista foi conduzida pela Vibe Magazine, e pelo repórter Kevin Powell, e é, portanto, propriedade da Vibe Magazine. © Kevin Powell/1995 Tempo Publishing Ventures Inc.

Vibe: Você pode nos levar de volta para aquela noite no Quad Recording Studios em Times Square?
Tupac: A noite do tiroteio? Claro. Ron G. é um DJ aqui em Nova York. Ele me pediu, tipo, "Pac, eu quero que você venha à minha casa e grave esse rap em minhas fitas." Eu respondi: "Tudo bem, eu vou de graça.".
Então eu fui à sua casa - eu, Stretch (nota: um rapper que dizia ser amigo de Tupac, porém Tupac afirmou mais tarde que ele estaria envolvido no atentado), e mais dois manos. Depois que eu gravei a música, eu fui bipado por um cara, o Booker, me dizendo que ele queria que eu gravasse no disco de Little Shawn. Agora, esse cara eu ia cobrar, porque eu podia ver que estavam apenas me usando, então eu disse: "Tudo bem, você me dá sete mil e eu vou fazer a música.". Ele disse: "Eu tenho o dinheiro. Venha.".
Eu parei para conseguir um pouco de erva, e ele me chamou de novo. "Onde você está? Por que você não vem?". E eu, tipo, "Eu estou indo cara, espera.".

Vibe: Você conhece esse cara?
Tupac: Eu o conheci através de alguns caras rudes que eu conheci antes. Ele estava tentando ser legítimo e tudo mais, então eu pensei que estava fazendo um favor a ele. Mas quando eu o chamava de volta para as gravações, ele estava, tipo, "Eu não tenho o dinheiro.". Eu disse: "Se você não tiver o dinheiro, eu não vou.".
Ele desligou o telefone, então me chamou de volta: "Eu vou chamar Andre Harrell (CEO da Uptown Entertainment) e ter certeza de que você consiga o dinheiro, mas eu vou dar-lhe o dinheiro do meu bolso.".
Então eu disse: "Tudo bem, eu estou a caminho.". Como nós estávamos andando até o prédio, alguém gritou do topo do estúdio. Foi Little Caesar, o parceiro de Biggie (o Notorious BIG). Esse é o meu mano. Assim que o vi, todas as minhas preocupações sobre a situação estavam tranquilas.

Vibe: Então você está dizendo que foi até ele...
Tupac: Eu me senti nervoso, porque esse cara sabia eu eu tinha arrumado uma briga grande. Eu não queria dizer à polícia, mas posso dizer ao mundo. Nigel tinha me apresentado a Booker.
Todo mundo sabia que eu estava com pouco dinheiro. Todos os meus shows estavam sendo cancelados. Todo o meu dinheiro dos meus discos ia para os advogados; todo o dinheiro dos filmes estava indo para a minha família. Então eu estava fazendo esse tipo de coisa, gravando com os rapazes e sendo pago.

Vibe: Quem é esse cara Nigel?
Tupac: Eu estava andando com ele o tempo todo que estive em Nova York gravando o filme "Above the Rim". Ele veio até mim e disse: "Eu vou cuidar de você. Você não precisa entrar em mais problemas.".

Vibe: Esse Nigel também não é conhecido pelo nome de Trevor? 
Tupac: Certo. Há um verdadeiro Trevor, mas Nigel levou ambos os apelidos, você entende? Então é isso que eu estava fazendo - cheguei perto deles. 
Eu costumava vestir calças e tênis. Eles me levaram às compras; foi quando eu comprei o meu Rolex e todas as minhas jóias. Eles me fizeram amadurecer. Eles me apresentaram a todos esses gangsters no Brooklyn. Eu conheci a família de Nigel, fui para a festa de aniversário de seu filho - eu confiava nele, você entende? Eu até tentei colocar Nigel no filme, mas ele não queria estar no filme. Isso me incomodou. Eu não conheço nenhum negro que não queria estar no cinema.

Vibe: Podemos voltar para o tiroteio? Quem estava com você naquela noite?
Tupac: Eu estava com Stretch em casa, seu camarada Fred, e o namorado da minha irmã, Zayd. Não estava com guarda-costas; eu não tenho um guarda-costas. Nós chegamos ao estúdio, e havia um cara lá fora em uniforme militar com o chapéu baixo no rosto. 
Quando nós caminhamos para a porta, ele não olhou para cima. Eu nunca vi um homem negro não me reconhecer de uma forma ou de outra, seja com inveja ou respeito. Mas esse cara só olhou para ver quem eu era e virou o rosto para baixo. Não me toquei, porque eu tinha acabado de fumar um baseado. Eu não esperava que algo ia acontecer comigo no lobby do prédio. Enquanto esperamos para beber, eu vi um cara sentado em uma mesa de leitura com um jornal. Ele não olhou para cima também.

Vibe: Estes são os dois homens negros?
Tupac: Homens negros na casa dos trinta. Então primeiramente pensei "estes caras devem ser os segurança do Biggie, porque eu sabia que eles eram de Brooklyn, devido seus uniformes militares. (nota: os rappers ou membros de gangue, naquela época, usavam roupas camufladas)"
Mas então eu pensei: espere um minuto. Até manos Biggie me curtem, por que não olham para cima? Apertei o botão do elevador, me virei, e é aí que os caras saíram com as armas, duas 9 mms idênticas. "Ninguém se mexe. Todo mundo no chão. Você sabe que hora é. Corre, seu merda.".
E eu pensei: O que devo fazer? Pensei que Stretch ia brigar; ele estava indo pra cima dos caras. Pelo que eu sei sobre crime, se os caras vêm para roubá-lo, eles sempre vão acertar o cara maior primeiro. Mas eles não tocaram em Stretch; eles  vieram direto para mim. Todo mundo caiu no chão como batatas, mas eu gelei. Não era como se eu estivesse sendo corajoso nem nada; Eu simplesmente não podia ficar no chão. Eles começaram a me agarrar para ver se eu estava armado. Eles disseram: "Tire suas jóias", e eu não queria tirá-las.
O cara de pele clara, o que estava em pé do lado de fora, chegou em mim. Stretch estava no chão, e o cara com o jornal estava apontando a arma para ele. Ele estava dizendo ao cara de pele mais clara, "Atira, filho da puta! Foda-se!".
Então eu fiquei com medo, porque o cara estava com a arma para o meu estômago. Eu passei meu braço em torno dele para mover a arma para o meu lado. Ele disparou e a arma torceu, e foi quando eu fui atingido pela primeira vez. Eu senti isso na minha perna; Eu não sabia que levei um tiro no saco. Eu cai no chão. Tudo na minha mente dizia, Pac, finja estar morto. 
Não importava. Eles começaram a me chutar, me bater. Eu nunca disse: "Não atire!". Eu estava tranquilo como o inferno. Eles estavam roubando as minhas coisas enquanto eu estava deitado no chão. Eu mantive os olhos fechados, mas eu estava tremendo, porque a situação me mantinha tremendo. E então eu senti algo na parte de trás da minha cabeça, algo muito forte.
Eu pensei que eles pisaram em mim ou me deram coronhadas, e eles estavam batendo a minha cabeça contra o concreto. Eu só vi branco, apenas branco. Eu não ouvi nada, eu não senti nada, e eu disse, estou inconsciente. Mas eu estava consciente. E então senti isso de novo, e eu podia ouvir as coisas agora, e eu podia ver as coisas e eles estavam trazendo-me de volta à consciência. Em seguida, eles fizeram isso de novo, e eu não conseguia ouvir nada. E eu não podia ver nada; que era apenas tudo branco. E então eles me bateram de novo, e eu podia ouvir as coisas e eu podia ver as coisas e eu sabia que estava consciente novamente.

Vibe: Alguma vez você ouvi-los dizer o nome deles? 
Tupac: Não. Não. Mas eles me conheciam, ou então eles nunca iriam verificar se eu estava armado. Era como se estivessem com raiva de mim.  Eu senti eles me chutando e me batendo; eles não bateram em mais ninguém. 
Era, tipo, "Ooh, filhos da puta, ooh, aah" - eles estavam chutando forte. Eu estava ficando inconsciente, e eu não estava sentindo nenhum sangue na minha cabeça ou nada. A única coisa que eu senti foi meu estômago doendo muito. O namorado da minha irmã se virou e me disse: "Ei, você está bem?".
Eu respondi, "Fui baleado, fui baleado.". E Fred disse que fui atingido, mas isso era a bala que passou pela minha perna. Então eu me levantei e fui até a porta - todo fodido - e assim que cheguei à porta, vi um carro da polícia parado lá.
Eu pensei: "Oh-oh, a polícia está chegando, e eu nem sequer subi as escadas.". Então nós saltamos no elevador e subimos. Eu estava mancando e tudo, mas não sentia nada. Estava entorpecido. Quando chegamos lá em cima, eu olhei ao redor, e isso assustou pra caralho.

Vibe: Por que?
Tupac: Porque Andre Harrell estava lá, Puffy (CEO da Bad Boy Entertainment, Sean "Puffy" Combs) estava lá, Biggie ... havia cerca de 40 manos lá. Todos eles tinham jóias. Mais jóias do que eu. Vi Booker, e ele tinha um olhar em seu rosto como ele ficou surpreso ao me ver.
Por quê? Eu tinha acabado de apertar a campainha e disse que estava subindo. Little Shawn estava chorando. Por que Little Shawn estava chorando, se eu levei um tiro? Ele estava chorando incontrolavelmente e dizendo, "Oh meu Deus, Pac, você tem que se sentar!". Eu estava me sentindo estranho, como: Por que eles querem me fazer sentar?

Vibe: Porque cinco balas tinham passado por seu corpo.
Tupac: Eu não sabia que tinha sido baleado na cabeça ainda. Eu não senti nada. Eu abri minha calça, e eu podia ver a pólvora e o buraco.
Eu não queria mostrar pra eles se meu pau ainda estava lá. Eu só vi um buraco e disse, "Oh merda. Me arrume um pouco de erva.".
Eu liguei para a minha namorada: "Ei, eu só levei um tiro. Ligue para a minha mãe e diga a ela.". Ninguém se aproximou de mim. Notei que ninguém queria olhar para mim. Andre Harrell não olhava para mim. Eu estava saindo para jantar com ele nos últimos dias. Ele havia me convidado para o "New York Undercover (nota: extinto grupo de rap)", dizendo-me que ele ia me arrumar um emprego. Puffy estava afastado também. Eu conhecia Puffy. Ele sabia quantas coisas eu tinha feito por Biggie antes que ele ficasse famoso.

Vibe: As pessoas viram sangue em você?
Tupac: Eles começaram a me falar: "Sua cabeça! Sua cabeça está sangrando!". Mas eu pensei que era apenas uma coronhada. Em seguida, a ambulância chegou, e a polícia. Primeiro eu percebi que o policial que chegou era o policial que prestou depoimento contra mim na acusação de estupro. Ele tinha um meio sorriso no rosto, e ele viu os caras olhando para as minhas bolas. Ele disse: "O que há, Tupac? Como vai isso?".

Tupac na saída do estúdio. Ele nem imaginava a quantidade de tiros que levou.

Quando cheguei ao Bellevue Hospital, o médico disse, "Oh meu Deus!".
E eu "O que? O que foi?". E eu ouvi ele dizendo a outros médicos,"Olhe para isso. É pólvora aqui.". Ele estava falando sobre a minha cabeça.
"Esta é a ferida de entrada. Este é o ferimento de saída.". E quando ele fez isso, eu podia sentir os buracos. Eu disse: "Oh meu Deus. Eu podia sentir isso.". Era por isso que eu estava desmaiando no saguão do prédio. E foi aí que eu disse: "Oh merda. Eles me deram um tiro na minha cabeça.". Eles disseram: "Você não sabe a sorte que tem. Você foi baleado cinco vezes.".
Foi estranho. Eu não queria acreditar. Eu só conseguia me lembrar do primeiro tiro, então tudo ficou branco.

Vibe: Em algum momento você achou que ia morrer? 
Tupac: Não. Juro por Deus. Para não soar assustador ou nada, eu senti Deus cuidando de mim desde o primeiro momento em que os manos puxaram as armas. A única coisa que me magoou foi que Stretch e todos os outros deitaram no chão. As balas não doeram. Nada doeu até que eu estava em recuperação. Eu não podia andar, não podia levantar, e minha mão ficou fodida.
Eu estava olhando as notícias e estavam mentindo sobre mim.

Vibe: Conte-me sobre alguma cobertura que aborreceu você.
Tupac: A primeira coisa que me incomodou foi aquele cara que escreveu essa merda dizendo que eu pretendia fazer isso. Que eu tinha encenado, que foi um ato.
Quando li isso, eu comecei a chorar como um bebê, como uma bicha. 
Eu não podia acreditar. Isso me deixou em pedaços.
E, em seguida, os noticiários estavam dizendo que eu tinha uma arma e erva comigo. Em vez de dizer que eu era uma vítima, eles estavam fazendo como se eu tivesse feito isso.

Vibe: E sobre todas as piadas, dizendo que tinha perdido um de seus testículos?
Tupac: Isso não me incomoda, porque eu penso, merda, eu vou ser o último a rir. Porque eu tenho mais coragem que todos esses manos.
"Você pode ter bebês", meus médicos disseram.
Me disseram isso na primeira noite, depois que começaram a cirurgia exploratória: "Nada há de errado. A bala entrou e saiu.". É a mesma coisa com a minha cabeça. A bala entrou e saiu.

Vibe: Você já teve muita dor desde então?
Tupac: Sim, eu tenho dores de cabeça. Eu acordo gritando. Tenho tido pesadelos, pensando que ainda estão atirando em mim. Tudo o que vejo é manos puxando armas, e eu ouço o cara dizendo: "Atire filho da puta!".
Então eu acordo suado como o inferno. Droga, eu tenho muita dor de cabeça. O psiquiatra em Bellevue disse que é o estresse pós-traumático.

Vibe: Por que você deixou Bellevue Hospital?
Tupac: Deixei Bellevue na noite seguinte. Eles estavam me ajudando, mas eu me senti como um projeto de ciências. Eles continuaram chegando, olhando para o meu pau e, merda, e isso não era uma posição legal para ficar. E eu sabia que minha vida estava em perigo. O Fruto do Islã estava lá, mas eles não têm armas. Eu sabia que tipo de manos que eu estava lidando.

Tupac na saída do hospital.

Então eu deixei Bellevue e fui para o Metropolitan.
Eles me deram um telefone e disseram: "Você está seguro aqui. Ninguém sabe que você está aqui.". Mas o telefone tocava e alguém dizia: "Você ainda não está morto?". Eu sempre pensava: "Merda! Esses filhos da puta não tem nenhuma piedade.". Então eu saí do hospital, e minha família me levou para um local seguro, alguém que realmente se importava comigo em Nova York.

Parecia ou não que o músico estava com medo?
****

Tupac saiu dois dias depois do hospital, mesmo sem autorização dos médicos, pois ele temia por sua vida.
Em menos de 5 meses depois, já foi condenado à prisão. Mas ele já havia terminado de gravar as canções para seu novo disco, que é a próxima parte desse especial.

5 comentários:

  1. Cara, puta post, heim? Tem que continuar com isso aí que ta massa! Namoral não tava muito ligado no Tupac, mas to vendo que o cara tinha história pra contar!

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  2. legal gostei . parabéns pelo trabalhor .

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  3. É revoltante demais, saber que fizeram de tudo para prejudicar o PAC e ainda saíram impunes dessa, e ainda tem gente que defende esses pilantras...

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